sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

A bomba não faz nada

Sofia tem medo de bomba. Fica bastante apavorada, estressada e chorona. Ela afirma e pergunta ao mesmo tempo, como se quisesse se convencer de algo que nem mesmo entende: "A bomba não faz nada papai?!!!!". Respondo calma e pacientemente: "Não Sofia, a bomba não faz nada."

Por conta disso, provavelmente eu passarei a contagem regressiva e os fogos dentro de casa, com a Sofia. Isso não me chateia. Muito pelo contrário, me dá satisfação e orgulho em saber que Sofia se sente protegida comigo, ou com a mamãe Raquel.

O que me deixa com um pouco de tristeza mesmo é saber que na Faixa de Gaza, um pai não pode dizer o mesmo ao seu filho. Em Serra Leoa, um pai não pode proteger seu filho das bombas, facões que mutilam mulheres e crianças, por diamantes. Na Nigéria, uma mãe diz ao filho que as bombas são uma disputa de poder entre Deus e Alá. No Haiti, as bombas são silenciosas e se chamam cólera. No Iraque, Afeganistão e Paquistão, os pais não tem o mesmo recurso que eu tenho, para abrandar o sofrimento dos filhos.

A paz é para poucos. E hoje, estou imensamente feliz por ter paz, e por comemorar com bombas que não fazem nada.

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Idéias, capivaras, águas e Neymar

Ontem, 27/12/2010, cerca de 100 estudantes fizeram uma manifestação contra o aumento dos parlamentares, subindo a rampa do Palácio do Planalto, entrando em confronto com a polícia. Sim, teve borrachada, socos, pontapés e sangue. Um estudante disse aos microfones: ''O objetivo não é invadir prédio público, mas reivindicar o direito de participar do processo decisório no país. Queremos um posicionamento do Lula e da Dilma sobre o aumento''
Enquanto isso, no Jornal Nacional:
Chamada para o próximo bloco: “Por que idéias de brasileiros não tem investidores interessados”. Corta para o break comercial e... Santander, o valor das idéias e blá blá blá. Na volta para o jornal, uma das idéias “surpreendentes”, segundo Bonner, é fazer compras sem o carrinho. Isso para um povo que, na sua maioria, nem enche uma sacola. Outra idéia “revolucionária e útil” é o contra-baixo sem cordas. Não me admira que não haja investidores para essas aberrações.
Em outra reportagem, que o Brasil inteiro precisa saber, é o risco que capivaras correm na Reserva Ecológico do Taim, RS. Elas atravessam a pista e frequentemente são atropeladas.
E tem ainda o asfaltamento da BR-135, que está ameaçando um patrimônio da natureza, com cavernas subterrâneas e lagos, dando destaque para uma espécie de cifão natural, com imagens muito bonitas de águas cristalinas. No break comercial, Sabesp, cuidando da água, blá blá blá.
Ah, mas agora tem Neymar, falando sobre seu primeiro treino na Seleção Sub-20. Neymar falou sobre sua responsabilidade: “Acho que é uma responsabilidade muito grande né...”.
Não, o Jornal Nacional não falou sobre a manifestação estudantil.

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Imobilização mental

Ontem, 22/12/10, em Roma, Palermo, Nápoles, Milão e Turim, estudantes saíram às ruas  em protesto contra uma reforma educacional. Há uma semana, centenas de estudantes foram às ruas e se misturaram com outras manifestações contra o premier Silvio Berlusconi e protagonizaram atos de violência em Roma que causaram prejuízos de 20 milhões de euros
Já em São Paulo, os estudantes...
No Rio de Janeiro, os estudantes...
Em Belo Horizonte, os estudantes...
Em Porto Alegre, os estudantes...
Em Curitiba, os estudantes...
Em Recife, os estudantes...
Esta é a imobilização mental, a bandeira da nova geração.

A importância da unificação

Muitos não entendem a importância disso tudo.
Essa unificação/rebatizamento ou seja lá o que for não é para aqueles que conhecem a história do futebol nacional.
É para a geração Wikipédia. Geração Google. Geração PS3. Geração SMS.
É para essa geração que, nascida no olho do furacão da tecnologia, atrofiou aquele sentimento de “quero saber mais”. Encostou num canto qualquer do cérebro, lotado de informação, o ímpeto da busca do conhecimento, dos porquês, da história.
O que Odir Cunha fez, com alguns deslizes, é verdade, foi lançar um pouco de luz às discussões frágeis sobre nossa paixão maior: nosso clube do coração. É só isso. O PVC, que é contra a unificação, captou a relevância histórica da discussão.
É uma pena que ninguém faça isso pela política. Seria extremamente impactante alguém desnudar o absurdo que é a Constituição de 88.

Ladrões. Ladrões. Devolvam o dinheiro do povo.

Hoje quero fazer desse dia, 15/12/2010, um dia diferente.

Pode ser só um desabafo, eu ainda tenho o direito.

Brinco que sou grego, que a Grécia é isso, é aquilo, é o supra-sumo. Brincadeira, todos sabem.

Porém hoje, 10 mil gregos saíram às ruas protestando, bateram em ex-ministro, atearam fogo, jogaram bombas caseiras e se confrontaram com a polícia.

Motivo: a indignação com corrupção e medidas absurdas do governo.
A frase do título desse desabafo transcreve uma das faixas do protesto.

Enquanto isso, no nosso Brasil, deputados e senadores votam, em caráter extraordinário, um aumento de 60% nos próprios salários, que já são bem generosos. Sem contar regalias que os referidos cargos carregam.

O que vamos fazer?

Podemos dar risada e soltar aquele já batido comentário: “Esse é o Brasil...” e irmos às compras de Natal.

E podemos ir às ruas.

E minha motivação é por aquele que tem o dinheiro contado do transporte. É por aquele que dará uma pequena lembrança de Natal para quem ama e deixa de fora muitos outros. É por aquele que só consegue pagar R$ 10 reais num panetone ruim e celebra feliz. É por aquele que está tão preocupado com impostos, material escolar, ou um simples presente pra mãe, que não consegue se animar. É por aquele aposentado que ainda tem forças para lutar por um mísero aumento. É por aquele aposentado que por receber tão pouco, ainda tem que trabalhar, com seus 65, 70, 75 anos, pisoteados pela falta de esperança.

Quem me conhece e quem não me conhece, pode me chamar.

Podemos ir às ruas. Ainda.

Estou dentro.

Desculpem a falta de humor.