segunda-feira, 4 de julho de 2011

Marola, Rodolfo Rodríguez, Fábio Costa e a improvável e inesquecível defesa de Marolinha

Naquele primeiro segundo, aos oito anos , fui morar num lugar onde os garotos eram palmeirenses, corinthianos e sãopaulinos. Meu pai nunca me disse para quem torcer, afinal, ele sabia que a escolha tinha que ser minha. Rejeitando a mesmice e a unanimidade, fui pensar diferente. Fui ser Santista.
No segundo segundo, ficava encantado com os berros do narrador ao rádio: defendeu Marola! E depois conferia na TV os milagres de Fiodermundo. Nos meus primeiros anos como goleiro, jogando no clube, ganhei troféu de menos vazado e inúmeras medalhas de melhor em campo, além de ter sido convocado para a seleção. Pedi ao meu pai uma camisa igual a do Marola, cinza e preta. Ele mandou fazer numa confecção e pronto, o apelido no clube foi automático: Marolinha.
No terceiro segundo, aos dez anos, o choro de Marolinha, quieto e abafado, sentado no chão, de pernas cruzadas, em frente à televisão. Admirando e odiando Zico e sua trupe acabarem com um sonho de criança.
No quarto segundo, num Torneio Início do Paulistão, o Santos foi campeão, com Rodolfo Rodríguez catando dois pênaltis, num deles um vôo sobrenatural até o ângulo. Marolinha tinha um novo ídolo.
E no quinto segundo, a inigualável sequência de defesas de Rodolfo e o abraço do meu pai corinthiano, no Morumbi, comemorando comigo e por mim, o gol do Chulapa.
Ao entrar na Vila Belmiro e ver Rodolfo Rodríguez vindo na minha direção, num encontro improvável, em cinco segundos, voltei a ser Marolinha. “Rodolfão”, disse ao gigante barbudo e o abracei com a mesma segurança e firmeza que defendia os chutes mais precisos. Ele, saindo por onde todos estavam entrando, me olhou, retribuiu um tímido e humilde abraço e, apressado, seguiu em frente.
Então segui minha vida, afinal tinha uma oitavas de Libertadores para ver: Santos X Nacional. Fábio Costa, vilão, falha e um cara na minha frente desanda a xingá-lo, berrando que aquilo não era goleiro digno de vestir a camisa do Santos. Fábio Costa, herói, pega três pênaltis e Santos se classifica. Fiz questão de ir atrás desse cara comemorar e xingar tudo de volta na fuça dele.
Talvez Marola  nunca saberá que eu mandei fazer uma camisa igual a dele.
Talvez Rodolfo nunca saberá que ele é meu maior ídolo santista.
Talvez Fábio Costa nunca saberá que quase arrumei briga por ele.
Mas Marolinha sabe que, neste dia, fez sua mais improvável e inesquecível defesa.