sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Imagens e Palavras

Sociedade da Busca da Obra Sonora Perfeita
Tentativa 1: Imagens e Palavras – Teatro do Sonho

PUXE-ME PARA BAIXO. Introdução pura, simples e conquistadora. Quem a conhece a ama. O ápice está aos 6m38s, na transição final de volta à música, quando Marco explica que bateria não é coadjuvante. Tive que ver duas vezes isso, ao lado dele, no Aramaçan, para acreditar. É verdade.

OUTRO DIA. O desafio é não gostar da melodia. Fácil é o sax. Cereja no boldo. Quem não gosta vomita. Aos 2m35s, Jaime arrebenta e arrebata. Se aqui, o Jaime te agrada (algo bem difícil), o resto está garantido. Solo chorável do João Italiano.

APROVEITE O TEMPO. Intro que ninguém faz. Letra perfeita. Para acordar às cinco da matina airguitarrando. Refrão monstro e raro. Toda ela te convida e te seduz ao desconhecido. A previsibilidade passou seis anos luz longe. Solo de tecla do Kevin insuperável. Encontre tudo aquilo que você precisa na sua mente, se você aproveitar o tempo, diz o Jaime.

ENVOLVIDO. Deixe-a te envolver, como a letra diz. É como um livro bom. Rápido e bom. É como um minuto de Chaplin. Cinco de Marilyn. O arranjo, a construção, a acentuação da bateria com a melodia são inéditos para os mais desavisados, há quase vinte anos. Mas tem que ouvir até o final.

METRÓPOLE. Letra misteriosa. Bateria é Godzilla invadindo a cidade. 5m38s e João Chinês se apresenta. E desafia o Kevin a fazer melhor, na seqüência. Quando achamos que a música morreu, aos 8m06 ela se reinventa. Tchaikowisky na veia. E nos dedos. Eterno. O amor é a dança da eternidade.

SOB UMA LUA DE CRISTAL. Sincronismo e dissonância comandam. Se João Bosco ouvir, entra em depressão. É o cartão de visita escrito: “Berkeley cria monstros. Bons monstros”. E tem também: como fazer um solo, limitado pela proposta, não ser chato e repetitivo.

ESPERE PARA DORMIR. Distoa, dá sono e não acrescenta nada, numa análise apressada. Mas é, na verdade, intro para a seguinte. A letra, a suavidade da voz e o pianinho, principalmente, conduzem ao final de tudo, pedindo para você esperar.

APRENDENDO A VIVER. O modo como o seu coração bate faz toda a diferença, canta Jaime. A influência da música oriental contamina todos os instrumentos. Mas aos 5m36s, João Italiano revela sua mente e sua mão latinas. Quando nos fazem lembrar da música anterior, tudo se encaixa. E o arranjo de João Italiano nos conduz suados e felizes ao final. Esperando para dormir e aprendendo a viver.

O IMPERFEITO RELATÓRIO DA IMPERFEIÇÃO:

Jaime incomoda com os agudos. Perfeitos. Mas irritantes. E palavras que agridem os ouvidos (não a mente) criam imagens ruidosas imperfeitas. Foi o caso.

Passou perto. Próxima.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Amarrando aves

Para Dioghetto Elina, conhecedô de musga. E pro Zaca, pelo presente.


Luiz Gonzaga, o Lua, ligou pro Satriani. Minino, vem aqui que eu quero te mostrá um negoço duma idéia que ta na cachola. Satri Haroldo Camata veio voando como Ícaro e trouxe Steve Harris, que estava devendo um favor. Na casa de Moraes Moreira, Pena Branca, sabendo do encontro, veio um dia antes com a introdução pronta. Já nos ensaios pra criar uma música for all, ou forró, Steve teve uma debandada e voou emburrado, pois queria uma intro mais longa. Pepeu teve um ataque de riso e meteu sugestão. Intervalo e todo mundo foi pra cozinha comer baião de dois com galinha caipira.

Na volta, Almir Sater comprou a briga de Pena Branca e falou, chamaro nóis só pruma intro de vinte cinco segundo? John Petrucci, que não queria abandonar o teatro, como Portnoy, acalmou tudo e, recuperando-se da ressaca, falou pro Vai, que já estava bêbado e incorporando a dança do cisne: Vai, vai lá e concerta e conserta a parada. Na mesma hora que Chimbinha, avoado, chegou atrasado e não entendeu nada. Nem da música. Mike Terrana seguia impaciente e inconformado com as melodias melosas sugeridas pelo Fagner, que ficou cinco minutos e, magoado, partiu com o coração alado.

Zakk Wylde lançou no ar o pedal na cara do Pepeu, que revidou com uma fabemolzada nas oreia, e foram se bicar na delegacia, 129 versus 129. Bono, na humildade, perguntou se a música não estava voando muito rápido. Saiu chutado como pomba pelo próprio Lua, que, decidido a não por boa voz em nada, já dava sinais de arrependimento de tentar amarrar esse bando. Dava mesmo. Dava pena do Pena Branca, na cadeira de balanço, dormindo. Satri tuiuiú, ave do cerrado, branco, careca e habilidoso, meteu uns efeitos matrix no meio de tudo. Petrucci desplugou o cara e saíram na mão. E saíram fora. Pena Branca morreu. Sater & Pepeu combinaram uma dupla e deixaram todo mundo no tapping, no two hands e na mão.

Chimbinha, que não largava o celular e a mizinha, desceu a ladeira, empurrado pelo Moraes. A jam baião de dois com galinha caipira foi pro vinagre. Virou farofa. Mike dormiu. Kiko entendeu tudo e decidiu escrever sobre o ocorrido. Na guitarra.

A morte tentou amarrar o Lua. Pau de arara amarra aves, amarrou gente, mas não amarra talento.

E está aqui ó, logo abaixo.
Pau de Arara – Kiko Loureiro

Ou aqui, para ver: 
Pau de Arara – Kiko Loureiro

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Corajosa Sofia

A Raquel me cobrou. Falei do Toninho e não falei da Sofia. Com duas semanas de vida, dei isso pra ela. O Iberê chorou. O Diogo vai chorar. Então toma. Chupa Raquel. Sua hora vai chegar.

Corajosa Sofia
Do escuro tem medo
Acordou logo cedo
Fazendo folia
No berço animada
Soltou gargalhada
Um xixi, um cocô
Acabou a alegria


Emburrou de repente
Tem fome animal
A mamãe é legal
Tem leitinho quente
O papai não sei não
É meio bobão
Mas é engraçado
Está sempre contente


E virou brincadeira
Agora acha graça
Do leão e da girafa
Tudo na banheira
E o banho acabou
A mamãe enxugou
Mas está muito frio
Começou choradeira

Um abraço bem quente
Deu calor, trouxe paz
Confortou ainda mais
Já ficou sorridente
Carinhosa Sofia
Que alegra meu dia
Seja bem-vinda
Te amo pra sempre

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Atitude de Peixe

Cozinha Neológica do Chef Eros – A Mistura Caótica dos Elementos
Prato 4: Meca Mega Raro com Azeitonitude Perada
Abri uma Coronado Índica e já me arrependi no primeiro gole. Por que comprei só uma? Saborosíssima. Fiquei na dúvida na hora e não quis arriscar  e comprar duas. Fui com HUMILDADE, pois tinha pouca grana. Mas estava convicto que compraria MECA, o peixe de bico mais difícil de ser capturado. No mercado é fácil. Meio kilo em postas. Nove Reais. Peguei um negócio chamado... esqueci... e falei, vou levar. No meio do caminho, desisti e peguei COENTRO mesmo. Nunca mais. Coentro em pó é péssimo e caro. Não tem gosto. Tem que ser a planta mesmo. Queria uma fruta e arrisquei sem medo: PERA RED, sem saber exatamente o que era. Tive CORAGEM. Fiquei quarenta minutos para comprar quatro coisas. Foi bem engraçado.
Mas não tanto quanto um velho amigo imitando o exterminador de baratas infectado, aquele de MIB 1, ao som de Mr. Crowley, com o Ozzy. Somado à idéia do improviso de um microfone imaginário na hora de cantar. Já o vi fazendo isso umas setenta vezes e sempre peço para repetir. Tem gente que é assim naturalmente. Igual comida boa: não enjoa.
Temperei o arrojado peixe com o péssimo coentro e o inigualável limão. E um pouco do misterioso AJINOMOTO. Untei de azeite e manteiga a fôrma. Sobrou manteiga então pintei o peixe. Lá pelas tantas, tive a idéia de colocar nozes. Ou passas. Ou quinoa. Mas não tive certeza. Abri a geladeira e descobri a AZEITONA e tive CONFIANÇA que ela seria útil.
Como esse meu velho amigo foi, às quatro da manhã de um dia de urgência médica, ao pilotar até Sorocaba. A gente conhece tanta gente nessa vida, mas para certas coisas, são umas poucas. E de tanta gente que esse velho amigo conhece, falei para ele tentar a política. Mas sei que me enganei com o conselho. Ele não tem estômago para tanto. Tem é coragem para reger a banda do tiro de guerra fazendo careta para o sargento, que nem percebeu.
Aos trinta minutos do segundo tempo de forno, o cheiro dava TESÃO na língua. Distribuí as azeitonas e as duas peras red cortadas no peixe. Mais dez minutos de tempo extra e fim de jogo. O parado peixe difícil de caçar estava morto e me esperando.
No cemitério, eu e meu velho amigo nos programávamos para um susto e tanto nos amigos. Surgiu um imprevisto, demos muitas risadas e improvisamos o susto mais pra frente do ponto inicialmente planejado. E num churrasco, duas horas e meia contando piadas, esse velho amigo nos brindou com performances e improvisos de piadas velhas, conhecidas e até ruins. Mas inesquecíveis com ele no comando.
Esse velho amigo um dia me perguntou se deveria fazer curso de teatro. Achava que estava velho para isso. Não sabia se gostaria, se iria ser útil, se daria dinheiro. Se largar tudo e viver “into the wild” era certo. Que sentia certa inveja dos arrojados. Que estava cansado de imaginar e desistir, sendo engolido pelo cotidiano. De novo. Falei que pensaria e depois responderia. Hoje respondo.
Velho amigo, você não está velho. Você está correndo, mas está parado. É tempo de dar um passo a frente. Só você pode parar você. Inscreva-se num curso de teatro, em primeiro lugar, depois a vida te indica como improvisar. O caminho você já sabe: Humildade, Confiança, Coragem e Tesão.
Baseado e improvisado das profundezas da mente da pessoa mais engraçada que conheço: Toninho Aids Galbin

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Espiga no copo dos outros é Skol envenenada


Já troquei novela por Internet. Datena por Two and a Half Men. Faustão por Natgeo. Big Brother por History Channel. Jornal Nacional por Mike & Molly. Alguns jogos de futebol por Castle. Filme “mais do mesmo” por livro. Valeu a pena. Está valendo. O grande desafio agora é trocar Brahma-Skol-Antarctica-Bohemia-Itaipava por Baden Baden, Colorado Indica, Guinnes, Eisenbahn e uma infinidade de cervejas artesanais ou importadas.
Nos acostumamos ao sem gosto da cerveja comum. É como olhar na TV e ver sempre o mesmo papel do Tony Ramos. A mesma dicção do Benício. A mesma pessoa muito humana que o Faustão convida ao palco. O gelado mascara a falta de gosto. A beleza supérflua e a falta de conteúdo imobilizam nossas reais necessidades, sentado ou não no sofá.
Dizem que a gente come muito lixo. Carne sem a qualidade adequada, com maquiagem para ficar atraente. Que o peixe bom mesmo, como o Meca, é para exportação. Que há muito veneno de agrotóxicos nas frutas, verduras e legumes, vendidos como se tivessem um conteúdo verdadeiro. Que o café que tomamos é bem ruim, em comparação com o que entregamos de bandeja e xícara para fora. Eu dormia com esse barulho. Então descobri algo estarrecedor: a cerveja popular também é um desses lixos. Aí foi demais pra mim.
Rogério Cezar de Cerqueira Leite, físico de 79 anos da Unicamp, entregou o ouro. Ou melhor, o malte. Ele prova que nossas cervejarias usam, na verdade, é milho, ao invés de cevada. E lúpulo de qualidade bem sofrível, que exige a adição de antioxidantes e estabilizantes. Entrega também que a “fusão” de Brahma e Antarctica (70% do mercado), que teve como argumento competir com as estrangeiras, revelou a real intenção quando houve a absorção por uma multinacional. É o cartel da falta de gosto. Uma camuflagem insípida.
A tarefa de zapear este lixo é mais árdua, pois os preços e o acesso fácil nos convidam, nos seduzem. Vou ter que comprar a TV a cabo da cerveja importada ou artesanal. Já estou tentando. A variedade de canais é infinita. A qualidade também. Sei que valerá a pena, mas reitero, será difícil. A combinação preço baixo com falta de gosto me condicionou, há muito tempo, a deixar no mesmo canal.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Quatro mulheres violentadas

A primeira lutava pelo fim da violência. Foi sequestrada. Mais de oito anos refém. Provavelmente violentada de fato, ainda tem pesadelos, dormindo ou acordada, dos momentos de sofrimento e humilhação. Foi resgatada e foi morar num outro país, o qual lutou pela sua liberdade. No seu país de origem, há uma lei que garante a vítimas de sequestro seis milhões de dinheiros de indenização. Ela pediu. Seu país a chamou de ingrata e de aproveitadora. Até a opinião pública torceu o nariz. Ela retirou o pedido.
A segunda era desconhecida no seu país, mas conhecida pelo resto do mundo. Convidou a todos para visitarem seu país e descobrirem a farsa que ele é. Convidou a todos a terem um salário lá. A pegarem as inúmeras filas para tudo. A utilizarem o transporte público imundo e sucateado. Tentaram calá-la. Com censura, depois com violência. Seu país tem uma armadilha paras as mães. Estas convivem a vida toda com um doloroso dilema: deixar seus filhos fugirem pro exterior ou deixá-los no país, sofrendo. Ela cria seu filho com tolerância e liberdade, algo que nunca teve na vida.
A terceira acabou de conseguir um bom emprego. Mas trabalhou muito tempo ganhando duzentos e oitenta dinheiros por mês. Fazendo comida cara e a servindo com um sorriso. Lavando banheiro sujo. Aguentando grosserias, piadas e gracinhas infames. Nesse seu novo emprego, será estagiária, ganhará quatrocentos dinheiros, terá tranquilidade e ambiente agradável. Na sua entrevista, uma resposta à pergunta “como você se vê daqui a seis meses” foi determinante na sua contratação. Disse que em seis meses ela pretende, com o dinheiro que economizar, estudar e se qualificar, para melhorar sua vida no futuro.
A quarta, quando pequena, viu sua família desmoronar. A mãe traía o pai. O pai a matou e anos depois, se matou. Hoje com cinqüenta anos, recebe pensão por seus pais terem sido funcionários públicos. Recebe cerca de treze mil dinheiros. Se casar, perde o direito à pensão. Nesses cinqüenta anos, viveu doze anos com um homem. E mais um tanto com outro. Tem uma filha e é uma bem sucedida atriz. Mais pela sua belza do que pelo talento. Vez por outra, revela sua personalidade preconceituosa, desrespeitando outros povos, fazendo apologia ao feminismo, ao machismo, misturando tudo isso com política.


Ingrid Betancourt é uma heroína real, do nosso tempo.
Yoani Sánchez é exemplo atual e terá milhões de seguidores.
Sandra Mara é lutadora que se vê muito hoje em dia.
A quarta é uma personagem.


*  Contribuição de Cláudio Gula.

sábado, 5 de fevereiro de 2011

Acorde acordado

Pra quem toca violão. Ou tentou. Ou tentará.

Eu que fiz. O Wendel afinou.



Acorde acordado

Um acorde na pestana
Acordado no susto
Acorda com muito custo
Não sai assim, não sai assado
Sem amor, sai sufocado
Se treinado, sai despertado

Faz fá na primeira, faz na segunda
Se voltar, é bemol
Só que na terceira, é sol
Soa estranho, não se assuste
Assim, parece sem sentido
E na quarta, sol sustenido

Lá na quinta, é lá que sai
Na sexta, soa sumindo
Meio suspeito, meio dormindo
Na sétima, é si, sim senhor
Que, sem sustenido, dá dó
Que sai na oitava, de uma vez só

Na nona, espere sonhando
Decida-se na décima, que é ré
E na seguinte, seu sustenido é
Mi faz fácil na próxima
E me faça o favor, querida
Faça um fá logo em seguida

Outra vez fá susteneia
Faz sentido como na onze
Só que sai sozinho, lá na quatorze,
E na quinze, que surpresa!
Acorde! Que dia gostoso!
O sol saiu de novo